22 de agosto de 2010

♫ Saci Pererê, Saci Pererê…Ele pula, ele corre… atrás de você! ♫

 Hoje é Dia 22 de Agosto DIA DO FOLCLORE.

          Que saudades que me deu da época de escola, das atividades envolvendo as lendas brasileiras, Câmara Cascudo e tudo da nossa tão rica, e por vezes, esquecida (faço mea culpa) Cultura Popular Brasileira.
         Ai que medo que eu tinha de ir para o sítio aos finais de semana por causa das benditas lendas, que medo do Saci, do Negrinho do Pastoreio. Ai e a Vitória-Régia? É uma das minhas lendas preferidas, mas folclore é muito mais que lendas, envolve as danças, as artes e até mesmo a linguagem, é só pesquisar e você vai descobrir o rico mundo da sabedoria popular.
         A palavra Folclore, de raízes saxônicas,  é a junção da palavra Folk quer dizer povo +  lore, o saber, o conhecimento, o costume. Assim, pode-se afirmar que Folclore é o saber "vulgar" do povo, ou seja, é aquele conhecimento que não transmitido através de escolas e nem de livros.
       Como forma de homenagear essa data tão especial e rica, vou postar a minha lenda favorita, a lenda amazonense da Vitória-Régia.


LENDA DA VITÓRIA-RÉGIA

A lenda da vitória-régia é muito popular no Brasil, principalmente na região Norte. Diz a lenda que a Lua era um deus que namorava as mais lindas jovens índias e sempre que se escondia, escolhia e levava algumas moças consigo. Em uma aldeia indígena, havia uma linda jovem, a guerreira Naiá, que sonhava com a Lua e mal podia esperar o dia em que o deus iria chamá-la.
Os índios mais experientes alertavam Naiá dizendo que quando a Lua levava uma moça, essa jovem deixava a forma humana e virava uma estrela no céu. No entanto a jovem não se importava, já que era apaixonada pela Lua. Essa paixão virou obsessão em um momento onde Naiá não mais queria comer nem beber nada, só admirar a Lua.
Numa noite em que o luar estava muito bonito, a moça chegou à beira de um lago, viu a lua refletida no meio das águas e acreditou que o deus havia descido do céu para se banhar ali. Assim, a moça se atirou no lago em direção à imagem da Lua. Quando percebeu que aquilo fora uma ilusão, tentou voltar, porém não conseguiu e morreu afogada.
Comovido pela situação, o deus Lua (Jaci, para os índios)  resolveu transformar a jovem em uma estrela diferente de todas as outras: uma estrela das águas – Vitória-régia. Por esse motivo, as flores perfumadas e brancas dessa planta só abrem no período da noite.

Fonte> http://www.brasilescola.com/folclore/vitoria-regia.htm
                                  
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Sugestões de leitura:
http://www.suapesquisa.com/folclorebrasileiro/
http://ifolclore.vilabol.uol.com.br/div/folclore/folclore03.htm        

21 de agosto de 2010

Cheiro de saudade...

  
Dos Cheiros de Fatos Marcados

Vai dizer que não te lembra, que não leva pro passado,
Cheiro de açúcar queimado, na hora boa da merenda.
Não há um ser que esqueça, que na memória faça troca,
Do sempre gosto de pipoca, dos quitutes na despensa.
Você gostava dos bolos de chuva, da forte limonada,
E a boca era sempre manchada, talvez pelo suco de uva.
O que te lembra de repente, que bons tempos te remete?
Estouro de bola de chiclete, goles de chocolate quente.
Pra lembrar sem esforço, de uma tarde sossegada,
Cheiro da terra molhada, fruta mordida até o caroço.
No sempre aguardo da janela, de quando já era hora,
Compotas do doce de amora, doces pitadas de canela.
Dedos, lambuzos, lambidas de infância
Cheiros, registros, memórias
Caramelos, histórias
Criança.

Fernanda Rocha

19 de agosto de 2010

Não tem como não amar...

Ai, soy cafona...


O mundo anda tão complicado...
Letra: Renato Russo

Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Gosto de ver você dormir 
Que nem criança com a boca aberta
O telefone chega sexta-feira
Aperto o passo por causa da garoa
Me empresta um par de meias
A gente chega na sessão das dez
Hoje eu acordo ao meio-dia
Amanhã é a sua vez

Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você.

Temos que consertar o despertador
E separar todas as ferramentas
Que a mudança grande chegou
Com o fogão e a geladeira e a televisão
Não precisamos dormir no chão
Até que é bom, mas a cama chegou na terça
E na quinta chegou o som

Sempre faço mil coisas ao mesmo tempo
E até que é fácil acostumar-se com meu jeito
Agora que temos nossa casa
é a chave que sempre esqueço

Vamos chamar nossos amigos
A gente faz uma feijoada
Esquece um pouco do trabalho
E fica de bate-papo
Temos a semana inteira pela frente
Você me conta como foi seu dia
E a gente diz um pro outro:
- Estou com sono, vamos dormir!

Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você
Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo
Por amor

.*.*.*.
   
*Porque esse negócio de ficar em casa de noite tá me deixando meio romântica, ai ai ai ui ui...credo :/ Ou é a TPM? Whatever...Daqui a pouco tô postando música da Celine Dion, Shania...aí sim, chamem o médico....rs

18 de agosto de 2010

Simples assim...


JANELA

Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,
janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão.
Janela sobre o mundo aberta, por onde vi
o casamento da Anita esperando neném, a mãe
do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi
meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:
minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
clarabóia na minha alma,
olho no meu coração.

17 de agosto de 2010

Sabedoria popular: Muito falar, pouco pensar...


DA DISCRIÇÃO

Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...

Mário Quintana

Para quem não sabe guardar segredo ou gosta de falar da vida alheia e só depois põe-se a pensar, fica a dica, dica de um sábio passarinho. Quando a gente fala demais, paga mico, comete gafe, deixa amigo em situação constrangedora... A palavra é prata, mas o silêncio é OURO!

Outra coisa, se for para falar "pelas costas" e depois se arrepender, então é melhor se desculpar e ficar de bico calado para evitar se passar por fofoqueiro ou falso. Ah as mancadas, quem não as comete que atire a primeira pedra! O legal é refletir e aprender com tudo isso.

A gente não perde nada ficando de boca fechada, mas falando o que não deve, podemos perder uma amizade. Pensar, pensar e muito antes de falar! Discrição, cumplicidade e sinceridade são ingredientes que não podem faltar em uma relação.

Amizade perfeita e sem possíveis abalos nunca existirá, nem sonhe com isso. Acorda Alice!
Sabe por quê? Porque somos humanos, demasiadamente humanos, insuportavelmente imperfeitos e detestavelmente errantes. Seria uma #putafaltadesacanagem  exigir um mundo de pessoas perfeitas, quando estamos longe de sermos perfeitos, bemmm longeeee, longe mesmo....muito muito longe!!!!
Mãããssss...Não custa nada refletir antes de palavras ao vento proferir :)

*Sim, o uso excessivo do sufixo -mente é coisa de quem adora uma exagero, não me venham com Análises baratas e preconceituosas do Discurso...

9 de agosto de 2010

"A leitura do mundo precede a leitura da palavra."

Sonhos de menina...


Observando o mundo eu vejo
O quão importante é letrar
Ensinar a ler e a escrever
Ensinar a viver e a pensar


Além da leitura e da escrita
Mais do que regras pra decorar
Ensinar a língua, o seu uso:
Compreender, interagir...falar


Combater o analfabetismo
A ignorância, a desilusão...
A miséria do coração do homem
Só se faz com a Educação


Educar, amar, instruir
Só se faz com fé e união
Pais, mestres, alunos,
Vamos nos unir!
Pra mudarmos também a Nação.

Porque coisa morna não faz nem chá!



"Os indiferentes" - Antonio Gramsci

Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.
A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.
 A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.

Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.
 
 
*Antonio Gramsci nasceu no mês de janeiro de 1891 e faleceu no dia 27 de abril de 1936, na Itália. É um conhecido escritor, político e teórico político italiano. Foi membro fundador e líder do Partido Comunista Italiano e foi encarcerado pelo regime fascista de Mussolini.Seus escritos estão totalmente voltados para a análise da cultura e da liderança política e seu trabalho é notável pela sua originalidade, enquanto pensandor marxista. É bastante conhecido o seu conceito de "hegemonia cultural" enquanto forma de manutenção do estado, em uma sociedade capitalista.O texto que apresentamos, a seguir, pode servir para os educadores repensarem o momento atual e a sua prática educativa....


TÁ TÁ TÁ! (Professor Girafales Mode on)... NÃO ODEIO NADA NEM NINGUÉM QUEM ME CONHECE SABE, É SÉRIO, NÃO ESTOU FAZENDO MÉDIA, NÃO PRECISO DISSO, MAS É UM TEXTO IMPACTANTE E MERECEMOS UMA CHACOALHADA DE VEZ EM SEMPRE!
FICA A DICA ;)

Ler o mundo!


Autorretrato by google

TUDO É LEITURA

Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não.
Depende de quem lê.

Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não. Ou não, porque nem sempre deciframos os sinais à nossa frente. Ainda agora os jornais estão repetindo, a propósito das recentes eleições, "que é preciso entender o recado das urnas". Ou seja: as urnas falam, emitem mensagens. O sambista dizia que "as rosas não falam, as rosas apenas exalam o perfume que roubam de ti". Perfumes falam. E as urnas exalaram um cheiro estranho. O presidente diz que seu partido precisa tomar banho de "cheiro de povo". E enquanto repousava nesses feriados e tomava banho em nossas águas, ele tirou várias fotos com cheiro de povo.

Paixão de ler. Ler a paixão.

Como ler a paixão se a paixão é quem nos lê? Sim, a paixão é quando nossos inconscientes pergaminhos sofrem um desletrado terremoto. Na paixão somos lidos à nossa revelia .

O corpo é um texto. Há que saber interpretá-lo. Alguns corpos, no entanto, vêm em forma de hieróglifos, dificílimos. Ou, a incompetência é nossa, iletrados diante dele? Quantas são as letras do alfabeto do corpo amado? Como soletrá-lo? Como sabê-lo na ponta da língua? Tem 24 letras? Quantas letras estranhas, estrangeiras nesse corpo? Como achar o ponto G na cartilha de um corpo? Quantas novas letras podem ser incorporadas nesta interminável e amorosa alfabetização? Movido pelo amor, pela paixão pode o corpo falar idiomas que antes desconhecia.

O médico até que se parece com o amante. Ele também lê o corpo. Vem daí a semiologia. Ciência da leitura dos sinais. Dos sintomas. Daí partiu Freud, para ler o interior, o invisível texto estampado no inconsciente. Então, os lacanianos todos se deliciaram jogando com as letras - a letra do corpo, o corpo da letra.

Portanto, não é só quem lê um livro, que lê.

Um paisagista lê a vida de maneira florida e sombreada. Fazer um jardim é reler o mundo, reordenar o texto natural. A paisagem pode ter sotaque. Por isto se fala de um jardim italiano, de um jardim francês, de um jardim inglês. E quando os jardineiros barrocos instalavam assombrosas grutas e jorros d'água entre seus canteiros estavam saudando as elipses do mistério nos extremos que são a pedra e a água, o movimento e a eternidade.
O urbanista e o arquiteto igualmente escrevem, melhor dito, inscrevem, um texto na prancheta da realidade. Traçados de avenidas podem ser absolutistas, militaristas, e o risco das ruas pode ser democrático dando expressividade às comunidades.

Tudo é texto. Tudo é narração.

Um desfile de carnaval, por exemplo. Por isto se fala de "samba enredo". Enredo além da história pátria referida. A disposição das alas, as fantasias, a bateria, a comissão de frente são formas narrativas.
Uma partida de futebol é uma forma narrativa. Saber ler uma partida - este o mérito do locutor esportivo, na verdade, um leitor esportivo. Ele, como o técnico, vê coisas no texto em jogo, que só depois de lidas por ele, por nós são percebidas. Ler, então, é um jogo. Uma disputa, uma conquista de significados entre o texto e o leitor.
Paulinho da Viola dizia: "As coisas estão no mundo eu é que preciso aprender". Um arqueólogo lê nas ruínas a história antiga. O astrônomo lê a epopéia das estrelas. Ora, direis, ouvir & ler estrelas. Que estórias sublimes, suculentas, na Via Láctea.

Não é só Scheherazade que conta estórias. Um espetáculo de dança é narração. Uma exposição de artes plásticas é narração. Tudo é narração. Até o quadro "Branco sobre o branco" de Malevich conta uma estória.
Aparentemente ler jornal é coisa simples. Não é. A forma como o jornal é feita, a diagramação, a escolha dos títulos, das fotos e ilustrações são já um discurso. E sobre isto se poderia aplicar o que Umberto Eco disse sobre o "Finnegans Wake" de James Joyce: "o primeiro discurso que uma obra faz o faz através da forma como é feita".
Estamos com vários problemas de leitura hoje. Construímos sofisticadíssimos aparelhos que sabem ler. Eles nos lêem. Nos lêem melhor que nós mesmos. E mais: nós é que não os sabemos ler. Isto se dá não apenas com os objetos eletrônicos em casa ou com os aparelhos capazes de dizer há quantos milhões de anos viveu certa bactéria. Situação paradoxal: não sabemos ler os aparelhos que nos lêem. Analfabetismo tecnológico.

A gente vive falando mal do analfabeto. Mas o analfabeto também lê o mundo. Às vezes, sabiamente. Em nossa arrogância o desclassificamos. Mas Levi-Strauss ousou dizer que algumas sociedades iletradas eram ética e esteticamente muito sofisticadas. E penso que analfabeto é apenas aquele que a sociedade letrada refugou. De resto, hoje na sociedade eletrônica, quem não é de algum modo analfabeto?

Vi na fazenda de um amigo aparelhos eletrônicos, que ao tirarem leite da vaca, são capazes de ler tudo sobre a qualidade do leite, da vaca, e até o pensamento de quem está assistindo a cena. Aparelhos sofisticadíssimos lêem o mundo e nos dão recados. A camada de ozônio está berrando um S.O.S , mas os chefes de governo, acovardados, tapam (economicamente) o ouvido. A natureza está dizendo que a água além de infecta, está acabando. Lemos a notícia e postergamos a tragédia para nossos netos.

É preciso ler, interpretar e fazer alguma coisa com a interpretação. Feiticeiros e profetas liam mensagens nas vísceras dos animais sacrificados e paredes dos palácios. Cartomantes lêem no baralho, copo d'água, búzios. Tudo é leitura. Tudo é decifração.

Ler é uma forma de escrever com mão alheia.

Minha vida daria um romance? Daria, se bem contado. Mas bem escrevê-lo são artes da narração. Mas só escreve bem, quem ao escrever sobre si mesmo, lê o mundo também.

Affonso Romano de Sant'Anna

8 de agosto de 2010

Para cada vício existe uma virtude!


A inveja está nos olhos de quem não vê!
  
"Deus dá a todos uma estrela.
Uns fazem dela um Sol.
Outros nem conseguem vê-la".
Helena Kolody

           Um dos vícios que as pessoas mais sentem vergonha de assumir é a tal da Inveja. Uns assumem que são preguiçosos, glutões, por vezes, dominados pela ira ou pela luxúria, mas inveja? Ninguém sente. Será?
          Lembremo-nos que a palavra INVEJA vem do latim invidere que significa “não ver” , o invejoso é sempre cego, ele nunca vê o merecimento alheio, por orgulho, por preguiça, pelos vícios que o perseguem e não permite com que ele vença, obtenha sucesso, pois em geral, os invejosos perdem muito tempo criticando, envenenando os corações e "secando" o seu alvo.
          Mas para cada vício, existe uma virtude, e a virtude contrária a inveja é justamente a caridade. A CARIDADE é o antídoto contra a inveja, tanto para aquele que sente inveja, quanto para aquele que é invejado. Parece estranho, mas é a verdade. Se sentem inveja de você e você age com caridade, generosidade, o invejoso acaba “enxergando” você com outros olhos, acredite!
          Ser admirado não é ser invejado, se você obtêm sucesso naquilo que você faz e serve de inspiração para as outras pessoas, isso é muito bom! Você está dando um exemplo. Inspiração, admiração, não tem nada a ver com inveja.
           Inveja, pra mim, particularmente não tem nada a ver com incompetência ou fraqueza como vemos nos "profiles orkutinianos". Muitas pessoas são adeptas dos jargões: “Ninguém inveja os fracos”, “Tem inveja de mim? Entra na fila”, ou “ Inveja é a arma dos incompetentes”, quem pensa assim, sofre de um outro vício chamado VAIDADE, que será assunto de outro post.
         O invejoso é apenas alguém sem conhecimento de si, e por vezes, sem amor próprio, literalmente cego em suas emoções, aquele que ignora o fato de ser igualmente capaz como qualquer outra pessoa de alcançar seus objetivos e realizar seus sonhos.
          A música do Angra diz bem: “Ignorance burns just like a fire, consuming people on it´s flame¹”, acredito piamente que a ignorância é a causa de todos os males existentes, e queima como fogo, consumindo as pessoas em suas próprias chamas.
          Por isso digo e repito: A inveja está nos olhos de quem não vê. Se tens olhos para ver, veja! Não inveje...
          O amor é antídoto contra todas as más tendências humanas: “Deus caritas est”. Veja, olhe, enxergue o próximo com o mesmo amor que tens para consigo mesmo e se esse amor ainda não é possível de se sentir, busque o autoconhecimento.


4 de agosto de 2010

Paroles encore des paroles que tu sèmes au vent...


Há tantos diálogos

Diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado

Diálogo consigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as idéias
o sonho
o passado
o mais que futuro

Escolhe teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.

Carlos Drummond de Andrade