16 de setembro de 2011

Utopias...



CORDEL
O estudante e a utopia

Numa pequena cidade
do estado pantaneiro
de uma família humilde
muito pobre sem dinheiro

Nascia um lindo menino
bonito por natureza
que todos admiravam
por sua rara beleza

Em uma casinha humilde
com mais quatro irmãozinhos
ali chegara o garoto
que o trouxera o destino

Naquela bela manhã
de um domingo ensolarado
Os vizinhos visitaram
o mais novo abençoado

Seu pai estava na roça
na lavoura a trabalhar
ficou muito animado
ao mandarem lhe chamar

Saiu às pressas correndo
com os filhos a voltar
a ver o mais novo ser
que acabara de chegar

Mas, como diz o ditado
pobre feliz dura pouco
o seu Dito Alagoano
resolveu se dar de louco

Saiu pra tomar cachaça
e voltou embriagado
ateou fogo no casebre
onde dormia o coitado

Porém, Dito não esperava
que seus atos impensados
deixaria o garoto
muito mais iluminado

O menino foi crescendo
também sábio foi ficando
entrou para a escola
quando tinha nove anos

Ainda muito atrasado
porque estava na roça
antes tarde do que nunca
pra ele isso é o que importa

Logo ao seu primeiro dia
assim meio espantado
chegou meio de mansinho
bastante desconfiado

Foi entrando pela classe
e um lugar escolhia
lá no fundinho da sala
onde ninguém lhe veria

Os tempos foram passando
e o menino a cada dia
estudava pra valer
porque o futuro prometia

Mesmo sendo pobrezinho
preguiça ele não tinha
encarava o labor
do meio-dia à tardezinha

Chegava em casa cansado
ia direto pras panelas
encontrava ali uns poucos
de moído de quilera

Seu calçado era os chinelos
roupa boa, ele não tinha
sua condução, os pés
sua bolsa, a sacolinha

E assim cantando ia
pra escola a estudar
porque lá tinha certeza
que à tarde ia lanchar

Passou fome, passou frio
mas uma coisa ele dizia:
nunca paro de estudar
não quero ser bóia-fria

Sua mãe ia pra roça
trabalhava sem parar
na colheita de algodão
pra o menino estudar

Quando tinha quinze anos
descobriu uma entidade
trabalhava com criança
ajudava a mocidade

Deu ao garoto uma chance
de um emprego conquistar
mas com uma condição:
ele tinha que estudar

Seu primeiro emprego veio
tudo era inusitado
foi trabalhar em um banco
garantir alguns trocados

Continuou a estudar
pra ele isso era sagrado
enquanto não terminou
não ficara sossegado

Aos seus dezoito anos
já estava mais criado
recebeu outro convite
e ficou mais animado

Aos seus dezenove anos
conheceu o seu amor
depois de muita conversa
ao coração conquistou

Casou-se depois de um tempo
isso já faz treze anos
deste laço de família
já lhe veio dois diplomas

Rebeca se chama um
O outro é Gabriela
são duas bênçãos na vida
de quem traz muitas seqüelas

Quando veio a primeira
foi estudar faculdade
com muita luta e custo
superou dificuldades

Lá chegando cursou Letras
com muita dedicação
durante os quatro anos
fez tudo de coração

Depois de um ano voltou
novamente a estudar
cursou especialização
parado não quis ficar

A você que é estudante
que trabalha o dia inteiro
que pensa em desistir
deixe disso companheiro

Estudando nesta vida
já é difícil pra vencer
quem dirá sem os estudos
mais difícil deve ser

Lhes dedico estes versos
de cordéis, de coração
pra moçada desta escola
a quem lhe estendo a mão

Se um dia precisar
lembre, ouça com atenção
quem vos fala é um professor
rico, isso ele não é não

Já sofreu muito na vida
conseguiu libertação
deve a Deus e a sua mãe
e à nossa Educação.

de Valdecir dos Santos
Poeta e Professor de Língua Portuguesa e Literatura em Naviraí - MS