23 de junho de 2011

Platonices...

A Leitora, Emmanuel Garant (Canadá 1953)


Vivi, olhei, li, senti, Que faz aí o ler, lendo, fica-se a saber quase tudo, eu também leio, Algo portanto saberás, Agora já não estou tão certa, Terás então de ler doutra maneira, Como, Não serve a mesma para todos, cada um inventa a sua, a que lhe for própria. Há quem leve a vida inteira a ler sem nunca ter conseguido ir mais além da leitura, ficam pegados à página, não percebem que as palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio, se estão ali é para que possamos chegar à outra margem, a outra margem é que importa, a não ser, a não ser, que, a não ser que esses tais rios não tenham duas  margens,  mas  muitas,  que  cada  pessoa  que  lê  seja,  ela,  a  sua  própria margem,  e  que  seja  sua,  e  apenas  sua,  a  margem  a  que  terá  de  chegar...


José Saramago, A Caverna, p. 29 - Cia das Letras