Moacyr Scliar
23/03/1937 - 27/02/2011
A literatura brasileira amanheceu de luto nesta manhã de domingo, e como forma de prestar a minha homenagem ao grande escritor gaúcho, vou postar uma entrevista fantástica publicada no final do ano passado no Portal Espresso:
Moacyr Scliar: "Tudo me inspira a escrever"
Para ele teria sido muito difícil ter de escolher uma profissão. "A literatura ensina ao médico a ver o doente por sua dimensão humana, coisa muito necessária numa época em que a medicina se torna cada vez mais tecnológica, tendência da qual os pacientes se ressentem."
16.12.10 - Texto: Diego Muniz - Fotografia: Bruno Fernandes
O gaúcho Moacyr Scliar, 72 anos, é um dos escritores mais respeitados da literatura contemporânea. Membro da Academia Brasileira de Letras e com mais de 70 obras lançadas, tem importantes prêmios no currículo, como o Jabuti, recebido em 2000, com o livro A Mulher que Escreveu a Bíblia. Mas o que talvez nem todos saibam é que, além de escrever, Scliar dedicou-se intensamente a outra área, a medicina. Formado em 1962, exerceu a profissão voltado para a saúde pública, como médico sanitarista e professor.
No mesmo ano em que seu primeiro livro foi publicado, Histórias de um Médico em Formação, Scliar recebeu o diploma da faculdade de medicina. Aliás, o encontro dessas duas profissões aconteceu naquela época. A obra é uma coletânea dos contos escritos para o jornal do centro acadêmico, narrando a vivência do estudante com as novidades da profissão. "O contato com a doença, com o sofrimento e a morte é uma experiência difícil mas muito reveladora, equivale a um mergulho no sentido mesmo da existência."
Nesses 47 anos, as duas especialidades caminharam juntas. Atualmente, o autor trabalha em um livro que as une. "Meu próximo trabalho é um ensaio sobre medicina e imaginação", conta. O imortal conseguiu seguir os dois empregos todo esse tempo sem ter de optar por apenas um. "Às vezes é difícil conciliar as duas carreiras, porque medicina absorve muito, mas quando se aprende a organizar o tempo, como eu aprendi, a combinação é muito gratificante."
Foi com essa dedicação que o gaúcho conseguiu entrar para o seleto grupo de médicos-escritores, que já contava com nomes importantes como Anton Tchekhov, João Guimarães Rosa, Pedro Nava e Jorge de Lima.
COM MEDO DE DOENÇAS
Formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Scliar especializou-se em saúde pública como médico sanitarista, cursou pós-graduação em Israel e lecionou na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
A profissão surgiu de forma inusitada na vida do escritor. "Cheguei à medicina porque tinha medo de doenças. Não tinha medo de ficar doente, isso até era bom porque podia faltar ao colégio, mas quando meus pais ficavam doentes, entrava em pânico."
Ainda criança, ele lembra, tinha o costume de ler livros sobre medicina, conversava com médicos sobre o assunto e isso o ajudou a não hesitar na hora da escolha da carreira. Hoje, o trabalho como médico consta de eventuais consultorias, em caráter voluntário. "Estou aposentado. Mas quando exercia a profissão aprendi a aproveitar todo o tempo útil para escrever. Deu trabalho, mas deu prazer."
O esforço foi condecorado em 2003, com o convite para ocupar a 31ª cadeira da respeitável instituição, que reuniu e reúne nomes importantes da cultura brasileira, a Academia Brasileira de Letras.
OUVIR E LER HISTÓRIAS
A vida de escritor também foi influenciada pela família, só que, dessa vez, não foi o medo que levou o então jovem à literatura. "Comecei a escrever por dois motivos: gostava muito de ouvir histórias, sobretudo aquelas que meu pai, imigrante e soberbo narrador, contava. E adorava ler, um estímulo que devo à minha mãe, professora e grande leitora. Também admirava escritores como Monteiro Lobato e Erico Verissimo, e muito cedo comecei a colocar minhas historinhas no papel."
Se as consultas como médico são hoje menos frequentes, o trabalho com as letras anda a mil por hora. Além dos livros, é possível encontrar colunas dele nos jornais Zero Hora, Folha de S.Paulo e Correio Brasiliense. "Considero a colaboração para os jornais um desafio à imaginação e uma forma de disciplinar a escrita, em tamanho, relevância com o tema e linguagem, que, sem deixar de ser literária, deve ser acessível."
Na extensa obra, Moacyr flerta com diversos gêneros literários, como romance, conto, ensaio, crônica e até ficção infanto-juvenil. O Exército de um Homem Só, O Centauro no Jardim, O Carnaval dos Animais, A Orelha de Van Gogh e Dicionário do Viajante Insólito são apenas alguns exemplos dos livros do escritor que estão disponíveis nas prateleiras de muitas livrarias e bibliotecas.
"Tudo me inspira a escrever: uma história que me contaram, uma passagem da Bíblia, um episódio da história do Brasil ou da história universal, uma notícia de jornal." Algumas dessas criações foram traduzidas para mais de 20 línguas.
Scliar é hoje escritor reconhecido internacionalmente e tem livros publicados na Inglaterra, Portugal, Suécia, França, Alemanha, Israel, entre outros países. Para se ter uma ideia do sucesso lá fora, O Centauro no Jardim foi a única obra brasileira indicada pelo National Yiddish Book Center, dos Estados Unidos, como uma das cem melhores de temática judaica lançadas em todo o mundo.
A imigração judaica também é assunto constante na obra do autor. "Admiro a literatura feita por escritores de origem judaica, sobretudo por causa do peculiar humor: irônico, melancólico. Acho que a história judaica ensina muito sobre o nosso mundo. É uma aproximação histórica e cultural."
UM OLHAR DE MESTRE SOBRE A LITERATURA ATUAL
Moacyr surgiu em uma época na qual os escritores produziam muitos livros marcados pelo engajamento político, sobretudo por causa da ditadura, fato que assinalou sua geração. Agora, o autor enxerga uma literatura de excelente qualidade, em que as relações interpessoais e os dramas humanos predominam.
"Minha obra também mudou, voltou-se mais para temas históricos, bíblicos ou médicos. Mas o engajamento continua, desta vez com a condição humana como um todo e não apenas com questões políticas."
E garante que está mais fácil trabalhar: "...o público se ampliou, as editoras estão mais profissionais, e há novos espaços, como a internet".
Segue em PAZ!
Ae Gessi!! Parabéns pelo conteúdo! Apesar de Otimista de mais! Rsrsrs!
ResponderExcluirUma pena que mais um escritor se foi! Minha indignação é que pessoas interessantes partem dessa vida, enquanto os "Latinos" da vida continuam aqui em nosso plano fazendo as suas "festas no Apê" e o povo retardando, dançando conforme o ritmo de suas mediocres melodias!
Saudações Ódiopáticas!!!
Abs