17 de abril de 2011

Esperançar...

O que posso eu fazer?

O escritor suíço Denis de Rougemont, um arguto defensor da unidade europeia, e, especialmente, um estudioso da ocidentalidade, disse algo que inspirou muitos discursos políticos: A decadência de uma sociedade começa quando o homem pergunta a si próprio: “O que irá acontecer?”, em vez de inquirir: “O que posso eu fazer?” São posturas muito diferentes perante a vida.

O filósofo brasileiro Mário Sergio Cortella, ao analisar a questão com maior profundidade, afirma: "a decadência, seja numa sociedade mais ampla ou outras instâncias, como a família, trabalho, etc., principia quando o imperativo ético da ação é substituído pela acomodação e pela espera desalentada."
Muitos, na sociedade moderna, estamos nos acostumando rapidamente com alguns desvios que parecem fatais e inexoravelmente presentes, como se fizessem parte da vida. Assim, nos acostumamos com a violência, com o desemprego, fome, corrupção e outros. É a prostração como hábito! – exclama o filósofo.
Como se um conveniente pensar estampado nos rostos e nas palavras disfarçasse uma suposta impotência individual, mas, que no fundo, é egonarcisismo indiretamente conivente. Tão confortável assim pensar...Confortável e extremamente perigoso. 
Felizmente a esperança ainda existe. Porém não confundamos a esperança do verbo esperançar, com a esperança do verbo esperar – como sugere Paulo Freire. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, é não desistir!
É levar adiante, é nos juntar com outros para fazer de outro modo. Pode-se ver claramente que a esperança do verbo esperançar é dinâmica, enquanto a outra, é estática, congelada, por vezes covarde...
 
A esperança nos convida a pensar:
Violência? O que posso eu fazer?
Desemprego? O que posso eu fazer?
Fome? O que posso eu fazer?
Corrupção? O que posso eu fazer?
 
Sempre teremos o que fazer. Sempre teremos uma contribuição a dar, nem que seja pelo nosso exemplo de agir no bem nas pequenas questões do dia-a-dia.
Não nos é pedido em demasia, pois muitos fazendo um pouco que seja, já gera transformações, gera movimentos, revoluções silenciosas...
Não se faz necessário muito, apenas não ceder à acomodação viciante, à indiferença paralisante, à alienação mortificadora. O que posso eu fazer?

* * *

Redação do Momento Espírita com base no cap. A resignação como cumplicidade, do livro Não nascemos prontos – provocações filosóficas, de Mário Sérgio Cortella, ed. Vozes e em citação do livro As paixões da alma – Dicionário filosófico de citações, de René Descartes, ed. Martins Fontes.

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