31 de julho de 2010
24 de julho de 2010
Brave New World!
Admirável Gado Novo
Zé Ramalho
Composição: Zé Ramalho
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber...
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer...
Êeeeeh! Oh! Oh!
Vida de gado
Povo marcado
Êh!
Povo feliz!...
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal...
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou...
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam essa vida numa cela...
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A Arca de Noé, o dirigível
Não voam nem se pode flutuar
23 de julho de 2010
Fides et ratio...
Sonho Impossível
Tradução: Chico Buarque
Sonhar, mais um sonho
impossível
Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei
É minha questão
Virar este mundo
Cravar este chão
Não importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras
terei de vencer
Por um pouco de paz
E amanhã
Se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu
Delirar e morrer de paixão
E assim,
Seja lá como for,
Vai ter fim
A infinita aflição
E o mundo
Vai ver uma flor
Brotar
do impossível chão
22 de julho de 2010
Brasileiríssima, Operária, Sonhadora...
Operários ( 1933) - Tarsila do Amaral
"Quero paz com a minha guerra"
Nas minhas veias corre sangue negro, índio, nordestino e tenho muito orgulho disso! Também tenho descendência italiana (olha o sobrenome), e obviamente, portuguesa. Que país maravilhoso é o Brasil! Saia pelas ruas e observe só um pouquinho, que povo maravilhoso, quanta criatividade, garra, determinação.
Sou brasileira, com muito orgulho, muito amor! Sou grata a Deus por ter me dado a oportunidade de nascer nesse país considerado a Pátria do Evangelho. A diversidade, a cultura, as músicas, as lendas... Tudo no nosso país me fascina, o que me entristece é que muitos não o levam a sério, desde os políticos até mesmo o cidadão que só critica e, de tão desacreditado que está, acha que o país não tem jeito mesmo. As pessoas perdem a esperança e "jogam a toalha", tem coisa mais triste que não ter mais fé no próprio país?
Não podemos mudar o nossa nação da noite para o dia, mas o voto consciente, ajuda muito. Antes de criticar e se lamentar, reflita sobre as suas atitudes, o que você faz de fato, para contribuir com a melhoria do nosso país, naquilo que você pode? Tenho certeza que independente da formação ou condição social, todos podem contribuir com a melhoria desse país. Muitos brasileiros merecem esse esforço...
A educação e a caridade começam em casa! Antes de reclamar, seja você a mudança, o exemplo, a ação!
Nosso povo merece um futuro melhor. Nós que temos a oportunidade de estudar, conhecer novas culturas e até mesmo aprender novas línguas, que temos acesso à uma boa educação temos o dever de trabalhar em prol de um povo que merece dignidade.
Retribua com trabalho a oportunidade que lhe foi dada, lembre-se de que muitos dão duro a vida inteira e nem sonham com a metade do que você conquistou.
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!
"Estudai, para conhecer e instruí-vos para viver o amor em toda sua plenitude. Não vos inquieteis ante as dificuldades que repontam em toda a parte. Mantendo o ânimo seguro e permanecei vinculados ao Senhor, a nossa rocha. Se convidados a violência, sede a paz". (Bezerra de Menezes)
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21 de julho de 2010
Limonada do dia...
A pipoca
Rubem Alves
A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.
Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de "culinária literária". Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.
Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.
As comidas, para mim, são entidades oníricas.
Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.
A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.
A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.
Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.
Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé...
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.
Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.
Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.
Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!
E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.
Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.
"Morre e transforma-te!" — dizia Goethe.
Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.
Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!" Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.
Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á".A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...
"Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu".
Inspirações...
Colha o dia!
Muitas pessoas me inspiram, como diz meu marido, sou um "burburinho de sentimentos e de cultura". Bem em relação à cultura, vocês sabem, as pessoas quando amam tendem a exagerar nos elogios, mas no que se refere aos sentimentos, realmente sou uma pessoa bem intensa e com sentimentos à flor da pele, por vezes impulsiva, e isso é amargo - Ser de Gêmeos e ter Lua em Câncer não é fácil. Levo muito a sério a expressão: "Coisa morna não faz nem chá", as leituras mexem comigo, me comovem, me revoltam, me instigam, me acalmam e, principalmente, me inspiram.
Rubem Alves me inspira. Não me lembro ao certo quando comecei a ler Rubem Alves, acho que eu estava na 5ª/6ª série, porém me lembro muito bem quem o apresentou: foi meu professor de História, o querido e inesquecível professor Cláudio, que por sinal foi quem me apresentou ao Eduardo Galeano (assunto de algum post no futuro), e desde então procuro acompanhar seus escritos...
Muitos educadores não gostam de Rubem Alves, não entendo o motivo da implicância, mas respeito. Se nem o próprio liga, quem sou eu pra tomar suas dores. Chega mesmo um momento da vida que você realmente se conhece a tal ponto que consegue discernir as críticas que fazem a você.
Grande Rubem Alves, és uma grande inspiração para mim, como educador, como escritor, como filósofo...enfim, como pessoa.
"Carpe Diem" quer dizer "colha o dia". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.
Rubem Alves
19 de julho de 2010
"Escrever é um ato de liberdade..."
"Uns escrevem para salvar a humanidade ou incitar lutas de classes, outros para se perpetuar nos manuais de literatura ou conquistar posições e honrarias. Os melhores são os que escrevem pelo prazer de escrever."
(Lêdo Ivo)
17 de julho de 2010
Só para legionários...
Era uma vez uma adolescente "rebelde" que curtia (e curte) umas coisas do capeta, tipo Iron Maiden, Ozzy, Megadeth, Metallica...isso mesmo: muito Heavy Metal!
Não preciso falar que essa adolescente se trata da pessoa que vos escreve, sim, eu passei boa parte da minha juventude escutando Rock e Metal. Eu achava Legião Urbana, Los Hermanos e cia um horror, música de gente chata e cult, quanto preconceito! Daí "apareceu o senador", digo, apareceu Luiz e me "contaminou" com seu gosto musical peculiar e passei a olhar essas bandas com outros olhos, ou melhor, "ouví-las com outros ouvidos".
Acredito que a Legião Urbana, em especial, ainda sofra alguns preconceitos, como aqueles que eu tinha. É só olhar algumas comunidades do orkut anti-legião e constatar.
Admito, que não sou nenhum pouco fã de rodinhas de violão tocando "Faroeste Caboclo" ou "Pais e Filhos" no meio de uma reunião entre amigos, inclusive acredito que esse tipo de atitude contribui para que algumas pessoas abominem Legião. Tudo tem hora meu povo!
Apesar disso, mantenho minha opinião e a expresso sem medo ou pretensões: pra gostar de Legião Urbana e entender suas letras tão profundas, não é uma questão de inteligência, como diria Lispector, e sim de sentir. Você tem que sentir, o melhor está nas entrelinhas...
Eu sinto Legião Urbana, eu vivo suas músicas que parecem que foram feitas especialmente pra mim e pra "a torcida do Corinthians" (tá, não achei outra expressão melhor).
Acredito que a Legião Urbana, em especial, ainda sofra alguns preconceitos, como aqueles que eu tinha. É só olhar algumas comunidades do orkut anti-legião e constatar.
Admito, que não sou nenhum pouco fã de rodinhas de violão tocando "Faroeste Caboclo" ou "Pais e Filhos" no meio de uma reunião entre amigos, inclusive acredito que esse tipo de atitude contribui para que algumas pessoas abominem Legião. Tudo tem hora meu povo!
Apesar disso, mantenho minha opinião e a expresso sem medo ou pretensões: pra gostar de Legião Urbana e entender suas letras tão profundas, não é uma questão de inteligência, como diria Lispector, e sim de sentir. Você tem que sentir, o melhor está nas entrelinhas...
Eu sinto Legião Urbana, eu vivo suas músicas que parecem que foram feitas especialmente pra mim e pra "a torcida do Corinthians" (tá, não achei outra expressão melhor).
A profundidade das palavras de Renato Russo ecoam pela eternidade...Mas isso é assunto pra outro Post, dedicado somente ao trovador solitário, ele merece...não é Éder?
Disciplina é liberdade,
Compaixão é fortaleza,
Ter bondade é ter coragem.
Lá em casa tem um poço,
mas a água é muito limpa.
Renato Russo
Porque dentro dos meus muitos "mims"...
Vive uma menina, um Riobaldo...um Miguilim!
O Dito dizia que o certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundas. Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma (…)
Miguilim (Campo Geral)
_______________________________________________________________________
Para mim simplicidade é o que há de mais sofisticado, não sei se alguém já disse isso, se eu li alguma vez na Sorte do Orkut... mas para mim a beleza, a sofisticação está justamente na simplicidade.
Bem, quem me conhece sabe, apesar das veias fortemente linguísticas, a Literatura é a minha paixão. Dentre as minhas paixões literárias, existe um amor maior: GUIMARÃES ROSA.
Pretendo escrever algo mais elaborado sobre esse MESTRE ABSOLUTO, com licença acadêmica que peço ao meu companheiro de turma Alexandre, especialista em literatura roseana. Ale, até peço licença pra falar um pouco de Rosa em uma outra oportunidade, com a sua ajuda.
Mas pra mim Guimarães Rosa é sofisticação e simplicidade...e por isso o amo tanto.
Sei lá, me entende?
"Eu quase que nada não sei, mas desconfio de muita coisa".
(Riobaldo, Grande Sertão Veredas)
16 de julho de 2010
Modernidades...(Parte II)
Era uma vez...um mundo melhor!
Tempos Modernos
Lulu Santos
Eu vejo a vida
Melhor no futuro
Eu vejo isso
Por cima de um muro
De hipocrisia
Que insiste
Em nos rodear...
Eu vejo a vida
Mais clara e farta
Repleta de toda
Satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão...
Eu quero crer
No amor numa boa
Que isso valha
Pra qualquer pessoa
Que realizar, a força
Que tem uma paixão...
Eu vejo um novo
Começo de era
De gente fina
Elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim
Do que não, não, não...
Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir...
Modernidades...
Era uma vez uma história que não precisa ser contada...porque essa história, não tem graça!
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha também latinhas e pontas de cigarro
No meio do caminho tinha folders e garrafas pet.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Da minha rotina quase que estagnada
Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra e
Tinha um homem ao relento, chorando baixinho e pedindo ao vento
Que levasse dali também tanta dor e sofrimento.
Coisinhas...
"Será que você vai saber o quanto penso em você, com o meu coração?"
Meu amor por você...
Não sou romântica
Não te sufoco
Não me declaro e nem idealizo
Não vejo porque expor meu amor ao mundo
Simplesmente o amo do meu jeito contido
Um amor sincero
Um amor inocente
Um amor atraente
Um querer bem infinito
Um sentimento que não pode ser vulgarizado
Não precisa ser exposto
E é impossível ser medido
Perdoa-me por não desenhar bem as palavras,
E dizer de forma tão simplória algo tão Divino.
Em busca de equilíbrio...
La Forza Della Vita
Renato Russo
Composição: Paolo Vallest / Beppe Datti
Anche quando ci buttiamo via,
Per rabbia o per vigliaccheria, per un amore inconsolabile
Anche quando in casa è il posto più invivibile
E piangi e non lo sai che cosa vuoi
Credi c'è una forza in noi amore mio,
Più forte dello scintillio, di questo mondo pazzo e inutile
È più forte di una morte incomprensibilie
E di questa nostalgia che non ci lascia mai.
Quando toccherai il fondo con le dita
A un tratto sentirai la forza della vita, che ti trascinerà con se,
Amore non lo sai, vedrai una via d'uscita c'è.
Anche quando mangi per dolore
E nel silenzio senti il cuore, come un rumore insopportabile
E non vuoi più alzarti e il mondo è irraggiungibile
E anche quando la speranza oramai non basterà.
C'è una volontà che questa morte sfida
È la nostra dignità la forza della vita
Che non si chiede mai cos'è l'eternità
Anche se c'è chi la offende o chi la vende l'aldilà.
Quando sentirai che afferra le tue dita
La riconoscerai la forza della vita, che ti trascinerà con se,
non lasciarti andare mai, non lasciarmi senza te.
Anche dentro alle prigioni della nostra ipocrisia
Anche in fondo agli ospedali nella nuova malattia
C'è una forza che ti guarda e che riconoscerai
È la forza più testarda che c'è in noi
Che sogna e non si arrende mai
È la volontà, più fragile e infinita, la nostra dignità
{Amore mio} è la forza della vita
Che non si chiede mai, cos'è l'eternità
Ma che lotta tutti i giorni insieme a noi, finchè non finirà
Quando sentirai {La forza è dentro noi}
Che afferra le tue ditta {Amore mio prima o poi}
la riconoscerai , {La sentirai}
La forza della vita
Che ti trascinerà con se, che sussurra intenerita:
"guarda ancora quanta vita c'è!"
Música do CD EQUILÍBRIO DISTANTE - Renato Russo
15 de julho de 2010
O que é vencer na vida?
Vencedor*
Los Hermanos
Composição: Marcelo Camelo
Olha lá, quem vem do lado oposto
Vem sem gosto de viver
Olha lá, que os bravos são
Escravos sãos e salvos de sofrer
Olha lá, quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá, quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar
Eu que já não quero mais ser um vencedor
Levo a vida devagar pra não faltar amor
Olha você e diz que não
Vive a esconder o coração
Não faz isso, amigo
Já se sabe que você
Só procura abrigo
Mas não deixa ninguém ver
Por que será?
Eu que já não sou assim
Muito de ganhar
Junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
Só pra viver em paz
*Sugestão de Leitura Complementar: http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=2043&stat=0
Duas meninas: Alice e Maria da Graça...
Para Maria da Graça
por PAULO MENDES CAMPOS
DO LIVRO O AMOR ACABA
Quando ela chegou à idade avançada de 15 anos e eu lhe dei de presente o livro Alice no País das Maravilhas.Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.
Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego?"
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego?"
Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é o lugar comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas, nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados conseguem abrir uma porta bem fechada e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece geralmente às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser séria ou profunda.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon!” Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato; experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gatos se fosses eu?”.
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os corredores chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não conseguirá saber quem venceu. Para o bolso: se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde queres, ganhaste.
Disse o ratinho: "Minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois um romance é só o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energicamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo aos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta esta parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida toda uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. Mas como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor. Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de sofrimento ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor tem a sua medida. É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.
Entre a essência e a aparência...
Somos Quem podemos Ser
Composição: Humberto Gessinger
Um dia me disseram
Que as nuvens
Não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos
Às vezes erram a direção
E tudo ficou tão claro
Um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro
Um disparo para um coração...
A vida imita o vídeo
Garotos inventam
Um novo inglês
Vivendo num país sedento
Um momento de embriaguez...
Somos quem podemos ser...
Sonhos que podemos ter...
Um dia me disseram
Quem eram os donos
Da situação
Sem querer eles me deram
As chaves que abrem
Essa prisão
E tudo ficou tão claro
O que era raro, ficou comum
Como um dia depois do outro
Como um dia, um dia comum...
Um dia me disseram
Que as nuvens
Não eram de algodão
Um dia me disseram que os ventos às vezes erram a direção
Quem ocupa o trono
Tem culpa
Quem oculta o crime
Também
Quem duvida da vida
Tem culpa
Quem evita a dúvida
Também tem...
Somos quem podemos ser...
Sonhos que podemos ter...
Um pouco de mim...
Adulta por fora
Criança por dentro
Vivo assim, na contramão
Sigo a direção que eu quero
Assim como o vento
Mantendo os meus pés bem fincados no chão!
Às vezes meio arisca, mas arrisque-se
E descubra quem eu sou...
Não me julgue, nem critique
Você nem sabe pra onde vou!
Sou como um suco de limão
Posso ser docinha ou azedinha
Isso vai depender da quantidade de açúcar
Que você coloca no meu coração
14 de julho de 2010
Um dinossaurinho muito fofo...
Era uma vez um personagem pouco compreendido...Estou falando do dinossaurinho mais querido do Brasil (pelo menos é o meu preferido), O HORÁCIO.
De acordo com alguns dados coletados na famosa enciclopédia livre, o Horácio, é um pequeno dinossauro orfão, filhote de Tiranossauro Rex, que possui um grande coração, no qual Maurício de Sousa expressa sua moral e ética.
O pequeno Horácio é considerado um dos personagens mais filosóficos de Maurício de Sousa, surgiu em 1963, nas tirinhas do Piteco.
Eu amo o Horácio, aliás, eu amo A Turma da Mônica até hoje!
Para saber mais sobre o trabalho do grande Maurício de Sousa, recomendo entrar no site oficial: http://www.monica.com.br/
De acordo com alguns dados coletados na famosa enciclopédia livre, o Horácio, é um pequeno dinossauro orfão, filhote de Tiranossauro Rex, que possui um grande coração, no qual Maurício de Sousa expressa sua moral e ética.
O pequeno Horácio é considerado um dos personagens mais filosóficos de Maurício de Sousa, surgiu em 1963, nas tirinhas do Piteco.
Eu amo o Horácio, aliás, eu amo A Turma da Mônica até hoje!
Para saber mais sobre o trabalho do grande Maurício de Sousa, recomendo entrar no site oficial: http://www.monica.com.br/
Sabor de infância...
"Music makes the people come together"
Sempre que postar um texto, colocarei também a letra de alguma música que me agrada. Uma crônica com gostinho de infância pede uma música suave para acompanhá-la.
BOLA DE MEIA, BOLA DE GUDE
Boca Livre e 14 Bis
Composição: Fernando Brant/ Milton Nascimento
Há um menino, há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas que eu acredito que
não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade,
alegria e amor
Pois não posso, não devo, não quero viver
como toda essa gente insiste em viver
E não posso aceitar sossegado qualquer
sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino, há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Os mineiros são muito especiais. Terra de Fernando Sabino, Guimarães Rosa, Chico Xavier, Milton Nascimento, Drummond, Ziraldo...e tantos outros.
E trem bão sô!
Um mineirinho especial (parte I)...
A história de hoje é de um mineirinho que nasceu homem e morreu menino...seu nome era Fernando Sabino, um escritor que marcou minhas leituras desde a infância.
Como forma de homenageá-lo, estreio as postagens do Blog com uma de suas crônicas mais conhecidas...e nem por isso, menos encantadora a cada releitura.
Boa Leitura (ou releitura)!
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de correr com êxito mais um anos nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódio. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: ” Assim eu quereria o me último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar para fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, torna-se mais evidente pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional de família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhado imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os dois lados, a assegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção de bolo com a mão, larga-a no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma fatia triangular.
A negrinha contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de um caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente, põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a seus pais que se juntam, discretos: “Parabéns pra você…” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lha a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que caiu no colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer, intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
FERNANDO SABINO
Vale a pena conferir!
Versão do Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=MODgSsn6XBM
Para saber mais sobre o autor: http://www.releituras.com/fsabino_bio.asp
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, torna-se mais evidente pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional de família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhado imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os dois lados, a assegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção de bolo com a mão, larga-a no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma fatia triangular.
A negrinha contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de um caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente, põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a seus pais que se juntam, discretos: “Parabéns pra você…” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lha a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que caiu no colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer, intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
FERNANDO SABINO
Vale a pena conferir!
Versão do Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=MODgSsn6XBM
Para saber mais sobre o autor: http://www.releituras.com/fsabino_bio.asp
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