6 de março de 2011

Mulher ao espelho...

SEMANA DA MULHER

Mulher ao espelho, 1932, Pablo Picasso

Mulher ao espelho

Hoje que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.


Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?


Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando. 
.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seu
se morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.


***
Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi uma das mais habilidosas, apresentando cuidadosa seleção vocabular, numa linguagem que explora simbolismos complexos frequentemente simples na forma. Uma poesia que contém imagens sugestivas, sobretudo as de forte apelo sensorial, reflexiva, de fundo filosófico. Abordou, entre outros, temas como a transitoriedade da vida, a efemeridade do tempo, o amor, o infinito, a natureza, a criação artística. Além disso, a frequência com que os elementos como o vento, a água, o mar, o ar, o tempo, o espaço, a solidão e a música aparecem em sua poesia dá-lhe um caráter fluido e etéreo, que confirmam a inclinação neo-simbolista da sua poesia, confirmando sua importante posição na literatura brasileira do século XX.
       Poetisa, professora, pedagoga e jornalista, Cecília Meireles nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 7 de novembro de 1901 e veio a falecer na mesma cidade em 1964. Casou-se duas vezes e deixou três filhas.
      Entre 1925 e 1939, dedicou-se a sua carreira docente publicando vários livros infantis e fundando, em 1934, a Biblioteca Infantil do Rio de Janeiro. A partir desse ano, ensinou Literatura Brasileira em Portugal (Lisboa e Coimbra) e, em 1936, foi nomeada para a Universidade Federal do Rio de Janeiro, recém-fundada.
      Cecília reaparece no cenário poético, após 14 anos de silêncio, com “Viagem” (1939), considerado um marco de maturidade e individualidade na sua obra: recebeu o prêmio de poesia daquele ano da Academia Brasileira de Letras. Daí em diante, dedicou-se à carreira literária, publicando regularmente até a sua morte.
      Escreveu também em prosa, dedicando-se a assuntos pedagógicos e folclóricos. Produziu também prosa lírica, com temas versando sobre sua infância, suas viagens e crônicas circunstanciais. Algumas de suas obras em prosa: "Giroflê, Giroflá" (1956), "Escolha seu Sonho" (1964) e "Inéditos" (crônicas, 1968).

Fonte: http://www.lusofoniapoetica.com/index.php/artigos/poesia-brasil/cecilia-meireles.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário